Exposição a decorrer entre 12 de outubro a 30 de novembro, no espaço ALMAD’ arte, na rua do Almada, no Porto.
As peças são produzidas com uso de técnicas de spraypainting e x-ato sobre painéis ou caixas de cartão canelado grosso reciclado, que permite criar composições com uma profundidade tridimensional, numa intervenção muito próxima do que é a “street art/ graffiti”, na fronteira entre a pintura e a escultura, e com maior tendência para a expressão plástica e visual.
As obras de Zacky Santos patentes nesta exposição, expressam a sua paixão pela vida selvagem, aliadas à liberdade de poder voar nas asas do pensamento.
Raízes e Asas
“Só duas coisas podemos dar aos nossos filhos: as raízes e as asas”
Provérbio yiddish
O chão onde somos trazidos ao mundo condiciona a nossa sensibilidade a cheiros, a cores, a ruídos, a sabores, a movimentos e modos de nos apossarmos do espaço, ou então de o espaço se apossar de todos os nossos sentidos. Quem nasceu em África, carrega essa marca de uma energia que brota da terra, onde o lado selvagem está sempre à espreita, numa manifestação permanente de que este espaço é partilhado por muitas espécies, por muitas formas de vida. E os homens, remontando ao ancestral “Homo Sapiens” que aqui teve origem, aprendem a conviver com esta biodiversidade, com esforço, mas também
com a alegria que um qualquer batuque transforma em dança. Aqui, é talvez ainda mais evidente a importância de se fazer parte de uma tribo, de se respeitar uma família e o local a que chamamos” casa”.
Esta herança africana deu asas criativas a Manuela Mota, nascida em Moçambique, que apesar de viver no Porto há cerca de 40 anos, nunca conseguiu afastar-se das memórias da sua terra natal, que ela transporta para a tela, num exercício de manter vivo o cenário das suas raízes. A paleta de cores é exuberante, com cores predominantemente planas, e a figuração traz-lhe de volta um universo, que parece tão distante do seu quotidiano.
Zacky Santos não trabalha a cor. A sua técnica de “card carving” é a arte da subtração de camadas de papel, conferindo profundidade ao desenho de formas, sobre cartão. A expressão do mundo sobre cartão, porque nada dura para sempre… Os seus motivos são diversificados, e tanto pode criar um retrato de uma figura pública, como retratos de habitantes anónimos de outras latitudes, ou representar formas de vida selvagem. A sua criação artística insere-se num modo de vida, em que escolheu a responsabilidade de alertar consciências para a importância, a urgência, de respeitar o planeta e a sua biodiversidade.
A conjugação destas duas formas de criação artística, nesta exposição, expressa a ideia de que a arte pode materializar-se a partir da raiz da vida e das convicções, e permite criar asas de projeção dos valores humanos, conjugando ética e estética.
Manuela Oliveira (Curadoria)
Outubro, 2023