A certeza de que nada voltará a ser como foi é ruidosamente ensurdecedora aos ouvidos de todos os que não se escondem com medo de evoluir e que aceitam a natural, cíclica, e necessariamente normal, mudança que atravessamos no Mundo.
A premissa chave da condição humana, entenda-se liberdade, foi invadida e questionada numa geração de gente que vinha crescendo como se nada ou ninguém a pudesse alguma vez atentar.
Pela certeza das conquistas das gerações anteriores, de pessoas que lideraram revoluções e construíram fundações, de uma sociedade igualitária, na sua génese conceitual, e pelo constante desenvolvimento tecnológico, capaz de construir um mundo virtual outrora possível apenas em sonhos e hoje materializado em acesso generalizado a tudo e a todos, a qualquer coisa em qualquer parte, a todo o tempo em qualquer momento, criou-se a ilusão de um caminho que parecia ser o único possível e desejável aos olhos da progressista ambição humana.
Sabemos hoje, os que não dormem embalados pela mão castradora e controladora que ainda tenta juntar o rebanho e aprimorar os pastos, que a mudança de hábitos e comportamentos está mesmo aí à porta.
Para os que já se estavam a preparar, o estrondo global não causou particular mossa e o pretexto de fazer mais e melhor é agora mais evidente sem tanta crítica e julgamento aos olhos de muita gente.
Na reinvenção da condição humana e da sociedade global, recuperam-se agora, cada vez mais, hábitos e costumes antigos na certeza de que a ancestralidade é muito mais do que pó, e a experiência de outros seres humanos, com outras vidas, de iguais anseios de felicidade, bem-estar, harmonia e paz, é em si mesma uma possibilidade que agora devemos recuperar e aprimorar com um novo sentido.
A evolução não se faz apenas de coisas inovadoras, de gente que constantemente busca mais e mais, assumindo uma arrogância de se ser fruto desta época e de estar acima de todos os seres humanos que antes viveram e igualmente construíram e desenvolveram este Mundo.
A humildade é um valor que faz falta e que deve ser recuperado em cada um de nós, e é o ponto de partida para entendermos o nosso papel no Mundo, entendendo que somos o centro de tudo e ao mesmo tempo somos um quase nada, um simples grão no Universo, e se por sorte ou divindade tivemos oportunidade de aqui estar, então temos o dever de zelar pelo Todo e não sermos egocêntricos assumindo o quero, posso e mando em estrito benefício individual.
Se existem direitos humanos conquistados pelas democracias, pelas nações que emergiram das guerras, e existem desejos que se tornaram virais e hoje chegam a quase todos que querem ser iguais e não viver com menos do que os demais, também existem deveres humanos, deveres que nos incutem o respeito por todos, o respeito pelo meio onde vivemos, o respeito pela liberdade de escolha de cada um, e a obrigação de promovermos o equilíbrio e a harmonia do nosso gigante ecossistema.
Um dos desafios das mudanças que se avizinham é saber reconstruir a sociedade global com a harmonia destes direitos e deveres humanos, com a capacidade de cada um entender o seu papel no Todo, de assumir essa responsabilidade, e nas escolhas do dia-a-dia ter consciência plena de que está a fazer parte da história da Humanidade, que é ator e espectador deste tempo, e que qualquer sociedade que venha a emergir só vai vingar se continuar a existir equilíbrio com o meio ambiente, se existir paz e uma cultura de não violência, e se existir respeito por nós e por tudo o que existe.
Que a cada novo dia, e cada nova entrada em cena a reflexão possa ser, “O que vou dar hoje ao Mundo para fazer dele um lugar melhor… ”
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