Na minha cabeça há imagens de pessoas. São muitas as que hoje consigo recordar, das que vejo algumas vezes às que já não vejo nem posso tocar, às que estão longe onde não posso ir viajar, até às que perdi o rasto, deixei ir, e agora só ao longe consigo imaginar.
Os momentos do passado que partilhamos com este tipo de gente guardam-se nas gavetas onde vamos por vezes vasculhar situações ideais para usar, das que nos fizeram rir, gargalhar, ter medo ou até mesmo chorar, sensações e emoções vibrantes que queremos de novo sentir, como se nada tivesse mudado e as pudéssemos repetir, a todo o instante, a todo o tempo, num piscar de olhos, num sopro do vento.
Há dias em que não sabemos o que procurar e só queremos preencher o lugar desocupado, que a distração nos deixou quando nos perdemos da multidão ou porque fomos vivendo, crescendo e já não estamos bem em todo o lado.
Há na vida um desapego que se aprende a cultivar, não quando se é jovem e tudo queremos ter e conquistar, mas quando se amadurece e não queremos apenas juntar e acumular. Na enologia da vida a seleção e a escolha das melhores uvas produzem o melhor vinho para se degustar, tal como a escolha das pessoas com quem gastamos tempo e energia produzem os melhores momentos para partilhar.
Respeito, justiça, amizade e amor cabem todos no mesmo pote alquimista em que procuro fazer novas misturas na minha vida. É para isso que vasculho as gavetas, para encontrar ingredientes, para procurar histórias, memórias ou imagens reluzentes, exemplos de coragem, altruísmo ou admiração, exemplos de vida, de amor sublime, de entrega e alegria no coração.
É a paixão incorrupta pela vida que nos faz acreditar que o que resultou em tempos pode de novo resultar, sem muitas vezes nos darmos conta que nada fica sempre assim, como na foto que se tirou e que o tempo congelou, ou na carta que foi escrita e que a caixa das memórias piegas guardou.
O Sol brilha de novo alto a cada novo dia, em que a Terra continua a girar e tudo flui e se movimenta, afinal porque que raio havia de ser igual o que já se viveu, noutra era usada e agora bolorenta… Demência infantil de quem não quer ainda crescer dá voz à saudade sofredora, àquela que traz amargo na boca, quando não damos liberdade ao que já aconteceu, quando não largamos a mão de quem nos acariciou com a sua presença, mas que têm vida própria, tem corpo, alma e história, têm a sua existência.
Quando se vivem tempos difíceis de reconstruir o que se perdeu, o que se deixou ir ou simplesmente desapareceu, quando o tempo parece escassear para recuperar e viver tantas coisas boas da vida, é preciso vasculhar as gavetas com sabedoria, procurar o que ainda faz sentido usar, e deixar de lado o que já não queremos e já não nos servia.
Sem dramas, são escolhas necessárias para haver mais espaço, daquele que não se compra com um novo roupeiro, nem um novo armário, e é mesmo preciso para podermos crescer, para termos mais histórias e momentos para viver, para evoluir a personalidade e o nosso ser, para não sermos gente amorfa e aborrecida, que diz mal de tudo e até da própria vida.
Não há milagre sem crença, nem prazer sem vontade, e como tudo o que faço começa sempre em mim no acreditar, porque as respostas que precisas estão dentro de ti e porque sozinho também sabes arrumar, que no teu amanhã, quando for a tua escolha, comeces um novo desafio e decidas destralhar.
A alquimia da Vida está a dar-nos o poder de renovar as fórmulas, de trocar ingredientes e de arriscar novas erupções, de eliminar, de misturar e de criar novas poções, a todos por igual, de forma única mas global, toda a gente pode participar, o Sol amanhã voltará a nascer, a Terra continuará a girar, e tudo flui e segue a vibrar, mas nós, tu, eu, podemos arriscar explodir o Mundo, fazer a diferença e ousar mudar, e espalhar uma magia nova que se contagia pelo ar…
Manuel Rodrigues
Pedro!
Fez-te sentido, na altura certa!
Gostei muito.
Obrigado!
Ao que não podemos mudar, há que nos adaptar para o ultrapassar, custe o que custar.
Obrigado mais uma vez!
Forte abraço
Marilia Gameira
Pedro, parabéns pela reflexão que faz sobre a alquimia da vida!
Nesta fase da vida, estou quase a perder a esperança de deixar um mundo melhor aos meus filhos e netos, mas a sua reflexão fez-me acreditar que não era só eu, “mas nós, tu, eu, podemos arriscar explodir o Mundo, fazer a diferença e ousar mudar, e espalhar uma magia nova que se contagia pelo ar…”
E o quê em primeiro lugar? Que o primeiro valor seja a igualdade! E o segundo a verdade! E que não seja necessário abdicarmos dos nossos valores para ganharmos o pão nosso de cada dia!
Um abraço grande!
pAUL aLVES
Os meus resultados são exactamente isso… meus. Não vale a pena apontar o dedo e olhar por fora quando todas as soluções estão por dentro. Por vezes preciso de apoio para me darem outra perspectiva que não consigo ter só e nesse caso estar aberto para realmente escutar e uma necessidade. Obrigado pelo artigo!
Antonia Lourenco
Lindo Pedro, recordar os momentos bons ja passados, e as pessoas verdadeiras e lutadoras como tu, que se cruzaram no nosso caminho, sao um elixir para crescermos como ser humano. Se quisermos podemos tornar este mundo muito melhor, dando amor e partilhando o nosso ser.
Bem haja por seres uma pessoa tao especial.
Beijinhos